sábado, 23 de julho de 2011

Fernando Pitta-Grós. A morte de um homem e o desaparecimento da história


Fernando Pitta-Grós falecido esta semana em Lisboa (04/7) para além de ser um respeitável mais-velho do nosso bairro, o Bairro Económico (Vila-Alice), pai da Ducy, da Dinha, do Nino, do Fernando Helder, da Fary, do Nando Chocolate e do Doro, foi nosso companheiro das lides políticas nos idos de 75, quando nos reencontramos na primeira Comissão Directiva do MPLA criada, salvo erro, no primeiro trimestre daquele ano, por Agostinho Neto.

*Reginaldo Silva*

Ele na altura já não se encontrava a viver na Vila-Alice, tendo ido parar àquela Comissão em representação do Comité do MPLA da Ingombota, salvo erro, enquanto eu e o Gustavo Conceição fomos escolhidos por sermos os representantes do Comité da Vila-Alice.
Ao que julgamos saber, foi efectivamente a primeira estrutura directiva a nível regional que o MPLA, na pessoa de Agostinho Neto, criou em Angola após o seu regresso a Luanda (4Fev75) na sequência do golpe de estado ocorrido em Portugal a 25 de Abril de 1974.

Esta comissão foi constituída tendo por base a integração de dois representantes de cada um dos vários comités de acção que o MPLA possuía na altura em Luanda.

Dos vários camaradas com quem me cruzei naquele tempo e naquele organismo, lembro-me dos já falecidos António Cardoso e Beto Cambuta (que trabalhou na TAAG), da Dra. Medina, do Fernando Coelho da Cruz, do Filomento Vieira Lopes, do Muohngo (Cazenga) e, obviamente, do Gustavo.

O grande "problema" desta Comissão é que ela não figura na história oficial do MPLA, tendo a sua existência sido completamente riscada do mapa, como se constuma dizer, por razões que até agora não me foi possível apurar. Este "misterioso" desaparecimento consta das páginas dos dois tomos sobre a história do MPLA, obra publicada em 2008.

Pouco mais de dois meses antes dele ter falecido, portanto muito recentemente, tive a oportunidade de me cruzar em Luanda com o Fernando Pitta Gróz, pessoa que já não via há bastante tempo. Soube na altura pela sua própria boca que a sua saúde não estava nada bem, mas estava longe de imaginar que me estava a despedir dele.

Aproveitei a oportunidade para lhe pedir se ele tinha alguma documentação guardada nos seus arquivos pessoais sobre a referida Comissão Directiva do MPLA de Luanda, depois de lhe ter comunicado que a mesma afinal nunca tinha existido por obra e graça dos historiadores que elaboraram os dois primeiros volumes da História do MPLA. Curiosamente todas as outras comissões directivas regionais da época num total de 15 são referidas na obra com os nomes dos seus integrantes devidamente mencionados no texto, menos a de Luanda. O meu interlocutor disse-me que sim, que tinha a tal documentação, mas que estava num local pouco acessível, deixando-me entender que, pela sua pouca disponibilidade física, dificilmente poderia satisfazer a curto prazo a minha solicitação.

À falta de uma melhor explicação sobre esta OMISSÃO, julgo que mesma pode ter na sua origem uma forte razão político-partidária interna, já que a Comissão Directiva do MPLA de Luanda foi suspensa depois dos acontecimentos do 27 de Maio de 1977. Os seus integrantes foram mandados aguardar em casa e pelo que também sei nunca mais nada lhes foi dito sobre o seu futuro, até hoje.

Na altura, em 77, eu já me tinha desligado há bastante tempo da referida Comissão Directiva, pois cedo perdi o interesse pela actividade partidária directa, tendo o mesmo sido substituído pelo jornalismo.

Ingressei nos quadros da RNA em Outubro desse mesmo ano, curiosamente depois de ter ido a ainda EOA ler um comunicado partidário, no quadro da "Semana de Unidade Nacional" que tinha sido promovida pelos três movimentos no âmbito do Governo de Transição saído dos Acordos do Alvor, como mais uma tentativa de se travar a escalada de tensão politica e militar que estava em curso e que viria a desembocar na primeira grande batalha de Luanda vencida pelo MPLA.

*In morrodamaianga

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