Eu, cristão e leigo católico, renovo aos fiéis
leitores do F8 e angolanos discriminados e sem voz (cada vez em maior número
por imposição de quem deveria existir para os servir), votos de novo ano, com
muita coragem e resistência, pois o meu prognóstico é de 2014 ser transformado
num ano de ainda maior intolerância por parte das forças policiais, de
segurança e militares do regime. Adiante.
Entrei o ano com tristeza, ante a partida inesperada
de Eusébio da Silva Ferreira, meu conhecido. Ingenuamente ainda acreditei, tal
como milhões de compatriotas e não só, numa lufada de bom senso nacionalista,
poderia assistir à outorga da nacionalidade angolana a título póstumo a Eusébio
da Silva Ferreira, uma vez ser filho de pai angolano, um autóctone malanjino.
Lembro-me de ele me ter dito uma vez, no Restaurante do Barbas: "tenho um
coração tripartido": pai de Malange, mãe de Maputo e Lisboa, cidade de
adopção. Felizmente, Portugal fez bonito, concedeu três dias de luto nacional,
com bandeiras a meia haste. Moçambique e Angola, nada…
Os portugueses, todos, sem excepção, homenagearam,
mesmo com chuva, de forma sentida o Homem cuja humildade transbordou as
fronteiras benfiquistas, para se instalar nos corações da nação lusa, que agora
– perante a indiferença das suas duas outras pátrias - o quer no Panteão
Nacional.
Tal como entrei, também já havia saído triste de 2013,
não só pelos milhões de autóctones que ficaram sem uma refeição, por imposição
da má política económica, mas fundamentalmente, pelo apagar da luz mais cintilante
de esperança em África e no mundo: Nelson Mandela.
Em todo caso fiquei orgulhoso por ver o reconhecimento
mundial, excepção do governo angolano, face à sua elevada estatura
reconciliadora, pacifista e democrata, mesmo tendo estado 27 anos encarcerado
nas masmorras do apartheid. Em Angola como opositor, mesmo de ideias, do actual
regime, Madiba teria sucumbido, antes de ir a julgamento, num banquete de um
qualquer jacaré do Dande…
Exemplos para quê? De Matias Miguéis (1965, ex-vice
presidente do MPLA, enterrado vivo), ao comandante Paganini (1966, queimado
vivo numa fogueira, na Frente Leste, numa base guerrilheira do MPLA, na
companhia de outros camaradas, acusado de feitiçaria e pretender dar um golpe a
Agostinho Neto).
No primeiro ano da Independência Nacional, antes mesmo
da sua proclamação, 22 de Agosto, a cultura dos assassinatos sem julgamento,
conheceria um ponto alto ao ser fuzilado, no campo da Revolução, por ordem de
Agostinho Neto, com transmissão em directo da Rádio Nacional de Angola, um herói
da luta clandestina que nos levaria à independência, Virgílio Sotto Mayor
(1975, guerrilheiro do 4 de Fevereiro), passando por José Van-Dúnem e Nito
Alves (1977, dirigentes do MPLA, assassinados sem julgamento na Fortaleza de
São Miguel?!, acusados de tentativa de golpe de Estado), ao jornalista Ricardo
de Melo, director do Imparcial Fax (assassinado em 1995, nas escadas do seu
edifício em Luanda), Mfulumpinga Landu Victor (2004, presidente do PDP-ANA,
assassinado no Bairro Kassenda em Luanda, depois de ter participado numa
reunião do Conselho da República), Alves Kamulingue, Isaías Cassule (2012,
ex-militares da Guarda Presidencial, assassinados por reivindicarem uma pensão
de reforma justa e digna), Hilbert Ganga (2013, dirigente juvenil da CASA-CE, assassinado
pela Guarda Presidencial, por estar a colar panfletos, no muro do Clube de
Ténis de Luanda, sito na Rua Francisco das Necessidades Castello Branco).
Como se pode verificar por este pequeno, muito
pequeno, número de cidadãos (quantos serão os que, anonimamente, têm o mesmo
destino?), a cultura de assassinatos selectivos continua inalterável,
eventualmente e de acordo com os avisos do Presidente da República feita com
redobrados cuidados…
Em 2014, como cristão, leigo e católico, espero ver
alterada a actual instituição de violência e discriminação governamental, com
mais respeito pela "Constituição Jessiana" e pelas leis. Espero ainda
que a oposição possa bater-se para a comunicação social do Estado deixar de ser
partidariamente do MPLA, exigindo a eleição das suas administrações e
direcções, conformando-se com o carácter público e imparcial, que devem ter em
democracia.
Igualmente, deverão impugnar, denunciando nacional e
internacionalmente a parcialidade da Comissão Nacional Eleitoral, abstendo-se
de concorrer se este órgão não se converter em independente, imparcial e sem o
comando fraudulento de forças adversas à transparência, lisura e respeito pela
vontade do eleitor.
Quanto aos leigos católicos, deverão multiplicar
romarias e vigílias em todo o território nacional, acendendo velas brancas,
para iluminar a mente dos governantes, para que possam respeitar os
compromissos livremente assumidos, quanto à extensão do sinal da Rádio Eclésia.
Manifestemo-nos por um direito adquirido e nisso temos o apoio espiritual do
Papa Francisco. Lembrem-se do que ele disse no Brasil aos jovens:
"manifestem-se pelos vossos direitos".
É o que deveremos fazer em defesa da propagação da
palavra do Senhor.
Estamos Juntos.